Nova Caledônia vota um novo referendo de independência sob tensão


Este é o terceiro referendo no arquipélago desde os Acordos de Matignon de 1988, que buscavam uma saída para a crise no território. Um apoiador da Independência agita uma bandeira da Frente de Libertação Nacional Socialista Kanak (FLNKS) durante a última reunião da campanha da FLNKS pelo "SIM" no referendo de autodeterminação da Nova Caledônia em 2020 Theo Rouby/AFP O território francês de Nova Caledônia, no Oceano Pacífico, vive neste fim de semana o terceiro e último referendo de independência de Paris, após uma campanha marcada pelas demandas para suspender o processo devido à pandemia de coronavírus. Em Nova Caledônia, cerca de 2 mil quilômetros a leste da Austrália, as 307 seções eleitorais abriram às 7h locais de domingo (17h de sábado, horário de Brasília) e fecharam às 19h (2h de domingo em Brasília). Espera-se que os primeiros resultados sejam apresentados algumas horas após o encerramento. Este é o terceiro referendo no arquipélago desde os Acordos de Matignon de 1988, que buscavam uma saída para a crise no território. Depois de rechaçar a ruptura com a metrópole em duas ocasiões, os 185 mil habitantes de Nova Caledônia terão que responder à pregunta: Você quer que Nova Caledônia obtenha sua soberania absoluta e seja independente? Em Nouméa, as filas na abertura das seções sumiram rapidamente, com eleitores chegando a conta-gotas. As autoridades mobilizaram um dispositivo de segurança com 2 mil agentes na ilha. 'Provocação' Essa presença "é uma provocação para os jovens", disse à AFP um morador de Saint-Louis, tribo indígena às portas de Numea, que viveu fortes incidentes no primeiro referendo. A consulta ocorre em um momento de muita tensão entre a França e seus aliados na região do Pacífico. Paris quer continuar tendo um papel relevante ali, graças a seus territórios ultramarinos, entre eles a Nova Caledônia. O presidente da França, Emmanuel Macron, insistiu em que Paris não toma partido no referendo e prometeu "uma vida em comum" entre a França e a Nova Caledônia independentemente do resultado. A França criticou em setembro a Austrália por romper um contrato de compra de submarinos entre os dois países, em favor de um pacto de segurança com Reino Unido e Estados Unidos. Por trás dessa disputa está o papel da China na região. Os analistas suspeitam que uma Nova Caledônia independente poderia se aproximar da China, que tem a intenção de investir na exploração dos recursos naturais do arquipélago. Pequim já é o maior cliente para a exportação de metais de Nova Caledônia, em especial o níquel. 'Colar de pérolas' chinês "Com o fim da proteção francesa, aparecem todos os elementos para que a China se estabeleça permanentemente em Nova Caledônia", opina Bastien Vandendyck, analista de Relações Internacionais especializado no Pacífico. Vandendyck considera que outras nações da região da Melanésia, como Fiji, Vanuatu, Ilhas Salomão e Papua Nova Guiné já são "satélites chineses". "Para a China completar seu 'colar de pérolas' em torno da Austrália só falta a Nova Caledônia", afirma o especialista. Os partidários da independência pediram um boicote à votação de domingo e o adiamento da mesma porque não houve uma "campanha justa" por causa dos riscos da pandemia de coronavírus e ameaçam não reconhecer os resultados do referendo. "Este referendo não faz muito sentido porque metade da população decidiu não votar. Eu vim por espírito cívico", disse Cathy, uma livreira que aguardava para votar em Nouméa. Os defensores da permanência como território da França convocaram uma mobilização maciça diante do boicote dos independentistas, para evitar que sua previsível vitória fique manchada pela baixa participação. No último referendo, em 2018, os defensores da permanência como território francês ganharam com 56,7% dos votos, mas seu percentual de apoio caiu para 53,3% nas eleições locais de 2020. Em junho, os diferentes campos políticos acordaram com o governo francês que, para além do resultado de domingo, o período que se inicia agora deve ser de "estabilidade e convergência", e um novo referendo deverá ser realizado em junho de 2023 para decidir o "projeto" futuro de Nova Caledônia.

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