Escritor americano Matt Ruff é um dos convidados da Bienal do Livro do Rio 2021


Autor de 'Território Lovecraft', ele utiliza os elementos de horror cósmico, consagrados na obra de H.P. Lovecraft, para lidar com a questão do preconceito racial nos Estados Unidos da década de 1950. Matt Ruff: 'Os elementos sobrenaturais estão na obra, mas o que me assusta mesmo é o racismo' Lisa Gold Estados Unidos. Década de 1950. As chamadas leis Jim Crow — conjunto de regras governamentais que davam respaldo legal à segregação racial — fazem com que o simples ato de viver seja um risco para negros, sobretudo no sul do país. Transportes segregados. Estabelecimentos segregados. Moradias segregadas. Escolas segregadas. Vidas segregadas. Para além de qualquer elemento sobrenatural, aqueles eram dias de verdadeiro horror para quem tinha a pele negra em território norte-americano. Era esse ambiente que, desde o início, estava na mente do escritor Matt Ruff quando ele concebeu "Território Lovecraft", fusão da vida sob segregação racial daquele período com elementos de horror cósmico consagrados na obra do escritor norte-americano H.P. Lovecraft. Convidado da Bienal do Livro do Rio de 2021 para o painel "O horror nosso de cada dia", Ruff diz que as intenções da obra já eram bem claras desde 2007, quando foi originalmente pensada como uma série de TV. Nome fundamental da literatura de horror, Lovecraft era racista — isso ficava implícito em alguns de seus contos e explícito na sua extensa troca de correspondência com parentes e amigos. Um dos melhores exemplos é "O horror em Red Hook". Ruff queria explorar uma contradição. "Como seria ter um protagonista negro em um tempo de profunda segregação racional enfrentando elementos nascidos da mente de um escritor brilhante e importante, porém racista, como Lovecraft?", questiona Ruff em conversa telefônica com o g1 diretamente de Seattle, no noroeste dos Estados Unidos. "Essa ideia me perseguiu durante muito tempo até que decidi colocá-la no papel — a princípio, como roteiro para uma série que não aconteceu. Por isso, decidi transformá-la em livro", completa. Bem recebido pelo público, o livro, por fim, acabou adaptado para uma série na HBO em 2020. No entanto, apesar de colher boas avaliações da crítica, a produção não foi renovada para uma segunda temporada. "Sem problemas. Acho que a série durou o tempo necessário. E talvez possamos ver o universo de 'Território Lovecraft' voltar a ser adaptado em algum outro momento no futuro". LEIA TAMBÉM: Bienal do Livro do Rio passou por adaptação por causa da pandemia Na abertura da Bienal, Paes volta a criticar censura a beijo gay em 2019: 'Beijem-se à vontade' Racismo e horror cósmico Livro explora o horror cósmico Lovecraftiano no ambiente racista dos Estados Unidos da década de 1950. Reprodução Formalmente uma mistura de coletânea de contos com romance, "Território Lovecraft" conta a história do jovem Atticus. Veterano da Guerra da Coreia e fã das obras de Lovecraft, ele embarca em uma viagem de resgate pelo interior dos Estados Unidos em busca do pai desaparecido. No caminho, além do preconceito racial, terá de enfrentar seitas sombrias, rituais macabros e seres de outros planetas — todos característicos do subgênero de horror cósmico concebido por Lovecraft. "É claro que os elementos sobrenaturais estão todos lá. Eles são necessários para fazer a conexão com o universo concebido por Lovecraft. Mas acredito que os maiores horrores que encontramos ali são mesmo os do mundo real: o preconceito, o racismo. Essas são questões que existem até hoje e que me assustam de verdade". Matt Ruff participará de forma remota do painel "O horror nosso de cada dia" da Bienal do Livro do Rio, no domingo (5), às 15h.

Escritor americano Matt Ruff é um dos convidados da Bienal do Livro do Rio 2021 Escritor americano Matt Ruff é um dos convidados da Bienal do Livro do Rio 2021 Analisado por Blog em dezembro 05, 2021 Classificação: 5

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