Maestro, compositor e jornalista: conheça Edson Rodrigues, um dos homenageados do carnaval do Recife
As formações não conseguiram afastar o músico de seu saxofone, que este ano completa 63 carnavais Edson Carlos Rodrigues, maestro, saxofonista, compositor, jornalista, geógrafo e professor de música, com pós-graduação em etnomusicologia. Este é Edson Rodrigues, um dos homenageados do carnaval do Recife em 2020. O músico, que gosta de folia "se for para tocar e ver o povo dançando", completa, este ano, 63 carnavais. No currículo do maestro ainda consta que ele assina 18 frevos. De outros autores, declara que "Lágrimas de Folião", de Livino Ferreira, é a sua canção preferida. Nascido em 29 março de 1942, no bairro de Campo Grande, no Recife, perdeu a mãe cedo, mas teve a avó por perto. Dona Inocência, que falava que aquele menino, franzino e pobre, era “virado”. Ele é um maestro que também poderia ter sido gráfico, mas que viu logo tocar saxofone podia dar mais dinheiro. Mas seu primeiro trabalho foi como gráfico, em frente à igreja do Carmo, no Recife. “Na primeira semana, o cara me pagou Cr$ 120 e me disse que poderia ser difícil manter, porque o negócio não estava bom. Saí de lá e fui ao Café Lafayette, um reduto que ficava na Rua do Imperador, e recebi um convite para tocar numa matinê o Clube Carnavalesco Madeira do Rosarinho. Por três ou quatro horas, me pagaram Cr$ 300. Nunca mais trabalhei como gráfico”. Edson Rodrigues começou a estudar música na então Escola Industrial Governador Agamenon Magalhães, onde ficou por meia década, nos anos de 1950. Começou com a requinta, um instrumento de sopro feito de ébano, um tipo de clarinete mais agudo, mas carnavalesco, que foi estrategicamente trocado pelo saxofone. “Eu era pobre, não podia tocar só no carnaval e a requinta é um instrumento carnavalesco. Eu queria tocar nas gafieiras, sonhava em viver de música. Aí ,pedi a um amigo para me ensinar umas escalas de saxofone. Décio Ferreira me ensinou e o saxofone passou a ser tudo. Mas, no começo, era emprestado da escola. Só tive o meu aos 20 anos, comprado na Mesbla”. Maestro Edson Rodrigues com um de seus quatro saxofones Tatiana Notaro/ G1 Ter estudado na Escola Industrial foi muito importante para Edson Rodrigues, não pelas aulas de artes gráficas em si, mas porque foi ali que começou a criação da Banda Municipal do Recife. “Eu era pequeno, mas tocava um instrumento que, de certa forma, era difícil e pouca gente tocava”, diz, sobre o saxofone. Ali nascia a hoje conhecida Banda Sinfônica da Cidade do Recife, da qual Edson Rodrigues também foi maestro. “Era 1958 e eu fui um dos fundadores. Nosso primeiro ensaio foi em 7 de outubro e a primeira apresentação, no dia 25 de dezembro. No dia seguinte, viajamos com a orquestra do Vassourinhas para São Paulo, para tocar no quinto aniversário da TV Record”. No começo, o pai, seu Edgar, não gostava muito da ideia de ter um filho músico. “Ele dizia que eu era franzino e eu podia me apaixonar pela bebida. Na minha família, todo mundo bebe, menos eu”, diz o maestro. E não bebe porque não gosta e porque é evangélico há 36, convertido à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. “O pessoal da igreja ia à minha casa atrás da minha filha, mas ela se escondia. Acabei eu assistindo às palestras. Aí ,disse a eles que não ia poder me batizar porque sou músico e, para viver, tenho que tocar na noite. E eles me perguntaram: ‘e quem lhe deu o dom da música?’, e me convenceram. Porque se fosse pra me afastar da música, eu não seria mórmon”. A vida é um carnaval “O quanto eu gosto de carnaval, em uma escala de 0 a 10? Eu não gosto menos que 10 e não posso gostar mais que dez porque não tem pra onde, né?”, brinca o maestro, que soma 18 composições, inúmeras participações em discos e coletâneas e prêmios em concursos de frevo. A primeira vez que Edson Rodrigues teve um frevo gravado foi por causa de outro golpe de sorte. Já era músico da então Banda Municipal do Recife, que gravava um disco de frevo que deveria ter 16 faixas, mas só tinha 15. “Nelson Ferreira (compositor) perguntou ao maestro Antonio Albuquerque se ele não tinha algum frevo para completar o disco, e o maestro disse: ‘tem um aqui, do menino’”. Foi assim que “Duas épocas” foi gravado, em 1968 (veja vídeo abaixo). Maestro Edson Rodrigues mostra como se toca frevo Maestro, jornalista, professor... Edson Rodrigues cursou Jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco, onde se formou em 1975. Ele até pensou em deixar de ser músico para ser repórter. Chegou a ser estagiário da editoria de política do Diario de Pernambuco. Depois, cursou Geografia. “Só então, decidi fazer música. Pensei: ‘vou dar alguma coisa à música porque’ até agora, só ela que me deu’”, disse, sobre a Licenciatura finalizada em 1998 na UFPE. É o único com estudo universitário da família. “A maior satisfação da minha vida? Veja, eu estudei meu primário no Grupo Escolar Pedro Celso, depois voltei pro Pedro Celso como professor. Estudei no Conservatório Pernambucano de Música, depois voltei como professor. E me formei na UFPE, para onde voltei como professor substituto. Por onde eu passei como aluno, voltei como professor”. E foi o mestre de nomes como os maestros Spok e Roberto Silva. Hoje, ainda dá aulas, em uma escola particular na Zona Norte do Recife. E relembrando da função que quase o tirou da música, o maestro diz que, um dia, ainda estudante de Jornalismo, foi entrevistar Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. “Perguntei a ele: ‘se você morresse amanhã, o que gostaria de fazer?’. E ele disse: ‘menino, o que tenho feito até hoje. Eu voltaria pra fazer a mesma coisa. E eu penso assim também”. Edson Rodrigues com os maestro Roberto Silva e Spok, seus ex-alunos Acervo pessoal Initial plugin text
Maestro, compositor e jornalista: conheça Edson Rodrigues, um dos homenageados do carnaval do Recife
Analisado por Blog
em
janeiro 17, 2020
Classificação:
Nenhum comentário: