Há 150 anos, folhinha de Mariana desafia o tempo e mantém tradições

Folhinha da cidade mineira mostra dias do ano, feriados nacionais, fases da lua e previsão do tempo. A fonte é o lunário perpétuo, um livro raro, escrito há 425 anos, na Espanha. Há 150 anos, folhinha de Mariana (MG) desafia o tempo e mantém tradições Uma relíquia que desafia o tempo vem de Minas Gerais. É a folhinha de Mariana, publicada há 150 anos. A cidade histórica já tem a versão 2020 desse calendário centenário. A experiência não falha. Para saber se vai chover ou fazer sol, dona Hebe nem precisa da tecnologia. As respostas do tempo estão bem ali. “A folhinha é considerada um oráculo. Às vezes a gente ia sair, as mães diziam assim. Olha aí. Olha na folhinha como é que está o tempo. Se tiver com jeito de chuva ou tempo nublado, leve agasalho”, conta ela. Em Mariana, boa parte dos moradores tem em casa uma folhinha. A publicação já é feita há 150 anos sem nenhuma interrupção. E os segredos dessa previsão ficam muito bem guardados. A fonte é o lunário perpétuo, um livro raro, escrito há 425 anos, na Espanha. Esse exemplar foi traduzido para o português e fica guardado em um cofre centenário. Ele é cheio de tabelas e muitos mistérios na hora de fazer as previsões. “O cálculo eu não posso passar, é como uma patente. Ou seja, eu mostrei para vocês o santo, mas o milagre eu não conto. É um segredo”, diz o padre Darci Leão. A folhinha convencional mostra, normalmente, os dias do ano, os feriados nacionais, fases da Lua. A folhinha de Mariana tem tudo isso e também: os horários de nascer e pôr do sol, as estações do ano, a época de plantio de cada lavoura, a previsão do tempo, os dias de penitência, todos os santos católicos e até o horóscopo. Todos os anos são impressos em mais de 350 mil exemplares. “Pode confiar mesmo nas previsões de tempo aqui, que a folhinha não erra. Se errar é São Pedro”, diz o impressor da folhinha, Aílton Damasceno. A folhinha de Mariana cruzou o estado de Minas. Seu Alípio Faria conta que já topou com a conterrânea, no centrão de São Paulo. “Fiz a volta, desci da ladeira lá. Foi lá na 25 de Março. A rua famosa lá. Chega lá tinha outro gritando folhinha de Mariana”. É o oráculo de Mariana que ganha o mundo. É a tradição. É a fé movendo o tempo. “A gente tem três opções, no caso, para olhar o tempo: olhar para o céu, a internet e temos a folhinha de Mariana. A folhinha de Mariana é certeira”, diz a moradora.