No Dia internacional do Voluntário, empreendedora social fala sobre transição de carreira e dá dicas sobre trabalho social


Joana Gamillscheg viajou para mais de dez países para atuar como agente de transformação em escolas, santuário de animais, abrigos, campo de refugiados, monastério, comunidade de zonas rurais e periféricas. Ela esteve na África do Sul, Quênia, Tanzânia, Jordânia, Índia, Nepal, Sri Lanka, Indonésia, Moçambique e Uganda. O que aprendi como uma voluntária pelo mundo Em 1985, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 5 de dezembro como o Dia Internacional do Voluntário. O objetivo era estimular, criar conscientização e reconhecer esse tipo de trabalho. A data é usada por diversos países em parceria com a ONU para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) — um conjunto de metas estabelecidas pela entidade em 2000 para o desenvolvimento sustentável. Entre eles, estão: combate à fome e à miséria; educação básica de qualidade para todos; igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres; redução da mortalidade infantil; melhoria de saúde para gestantes; combate à Aids, malária e outras doenças; garantia da qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; e estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento. Para marcar a data, que em 2021 é celebrada neste domingo (5), o g1 entrevistou a empreendedora social Joana Gamillscheg Felippe (veja mais no vídeo acima). Designer de formação e com cinco anos de experiência no campo humanitário, ela já viajou para mais de dez países para atuar como agente de transformação em escolas, santuário de animais, abrigos, campo de refugiados, monastério, comunidade de zonas rurais e periféricas. Além do Brasil, já atuou em países como África do Sul, Quênia, Tanzânia, Jordânia, Índia, Nepal, Sri Lanka, Indonésia, Moçambique e Uganda. Transição de carreira Joana Gamillscheg durante o trabalho voluntário na África do Sul, em 2017 Arquivo pessoal Formada em design, Joana trabalhou por quase dez anos na área de marketing de empresas multinacionais. Em 2016, aproveitou as férias para se voluntariar em um santuário de elefantes na Tailândia. O local acolhe animais que sofreram maus-tratos – eles vêm, por exemplo, de circos ou foram vítimas de turismo inconsciente. "Foi uma experiência muito transformadora, apesar de ser curta. Eu lembro que desembarquei no aeroporto do Rio direto para o escritório. Naquele dia, quando sentei de frente da minha máquina, já não via com o mesmo propósito as coisas que eu fazia", lembra ela. Combate ao abandono escolar: ONG distribui absorventes de graça para alunas de baixa renda Dinamarca: biblioteca 'empresta' pessoas por 30 minutos para contarem suas histórias São Paulo: moradores que buscam por cesta básica ou marmita enfrentam filas e longa espera No ano seguinte, ela usou novamente o período de férias para embarcar para a África do Sul, desta vez para trabalhar como voluntária em uma comunidade carente com taxa de infecção por HIV perto de 35%. "Nessas comunidades, o problema de saúde é absurdo, porque, além de ela [a Aids] estar atrelada à tuberculose, não existem iniciativas públicas que deem apoio a essas pessoas." De volta ao Brasil, Joana foi de novo direto para o escritório. "Eu não sabia quando essa mudança para o voluntariado iria começar, mas sabia que poderia mexer alguns pauzinhos, poderia me capacitar para isso. Então, comecei a aprimorar o meu inglês, a me fortalecer em termos mentais, em termos físicos e a estudar muito sobre o universo social." A oportunidade de seguir o sonho de ser voluntária pelo mundo chegou antes que ela esperasse. No final de 2017, a então designer recebeu um convite daquele mesmo projeto na África do Sul – no caso, para ser gestora de voluntários no período de alta temporadas (junho, julho e agosto). "Aquele foi o sinal de que eu precisava", disse. Assim, ela deixou o mundo coorporativo e embarcou em uma viagem pelo mundo ao longo dos oito meses seguintes (leia mais sobre essas experiências ao final desta reportagem). "A grande virada de chave foi quando eu já não via mais propósito em vender campanhas de marketing de seis dígitos, quando eu sabia que aquele valor podia alimentar comunidades inteiras." "Estive em comunidades onde as pessoas morrem por questões banais, morrem por conta de US$ 1. Como eu poderia vender uma campanha de R$ 100 mil para um cliente sendo que eu sabia que R$ 10 mil poderia ajudar uma comunidade inteira?" Dicas para voluntariar pelo mundo Para quem tem interesse em fazer voluntariado e nunca teve nenhum tipo de experiência, Joana diz que o mais importante é planejamento e estudo. As 5 principais dicas são: pesquise sobre a região; verifique se será preciso de adaptar à vestimenta e ao comportamento local; entenda as necessidades do projeto; busque saber como outros países e/ou projetos lidam com as mazelas desse nicho; capacite-se, não dependa apenas de organizações e corra atrás também. "O principal ponto de voluntariado pelo mundo é humanidade. Ubuntu é uma palavra que significa 'eu sou porque nós somos'. É uma palavra existente em línguas bantus, falada por povos da África subsaariana. Essa humanidade, esse ubuntu presente no espírito das pessoas, é o que acho que o voluntariado tem mais a ensinar, concomitantemente a uma escuta ativa e empatia", explicou. "Ubuntu" é também o nome do livro que Joana está lançando neste mês. Depois de dois anos escrevendo e voltando em histórias que viveu na experiência humanitária, o objetivo dela é mostrar "o quanto cada pessoa pode ser um agente de transformação no nossa sociedade". Além de estrear como escritora, Joana é cofundadora da Karibu, um negócio social que busca conscientizar voluntários sobre universo social. Experiências em campo Quênia No Quênia, Joana já trabalhou com crianças em abrigos e escolas Arquivo pessoal Em uma das viagens ao Quênia, Joana estava trabalhando em um projeto social de um abrigo com 72 crianças quando presenciou o que chama de "Dia D". Na ocasião, não havia comida para servir às crianças do local. "Elas iriam dormir sem se alimentar", contou. Naquele momento, a intenção era resolver uma situação emergencial. A ideia de Joana era levantar recursos que durassem 30 dias, tempo que seria usado na criação de uma estratégia de impacto a longo prazo. "Consegui fazer uma campanha muito grande nas redes sociais. Eu pedi apenas R$ 3 mil, que era o valor que eu conseguiria cobrir um mês. Em cinco dias, consegui R$ 17 mil para que comprar, unicamente, alimentos." Para Joana, apesar de ter sido paliativa, a campanha teve uma importância muito grande tanto em razão do engajamento das pessoas para ajudar quanto pela gratidão demonstrada por aquelas que receberam o auxílio. Sri Lanka Parte dos estudantes de um monastério no Sri Lanka que Joana ensinava inglês Arquivo pessoal Em 2018, a empreendedora social embarcou para Colombo, capital do Sri Lanka, para atuar em um monastério. O que ela não esperava era que dar aulas de inglês às crianças que estavam estudando para serem monges seria muito mais desafiador que o previsto. "Fui muito crua para esse projeto social. O meu grande erro nessa história toda foi não ter buscado o porquê de aquelas crianças de 6, 7, 8 anos de idade, tão pequenas, estarem no caminho para seguir a vida de um monge", comentou. No país, as famílias que não têm condições de criar seus filhos acabam enviando os meninos para se tornarem monges. É uma forma de garantir que eles tenham acesso à educação, à alimentação de qualidade e a um lar seguro para viver. Lá, Joana percebeu que a vida dessas crianças é muito restrita, sem autorização para brincar, ouvir música, jogar bola e ser criança. "Elas acordam antes de o sol nascer para as primeiras orações e só podem se alimentar até um determinado horário do dia. É uma vida levada extremamente a sério, para a idade." A lição? "Antes de tudo, a escuta ativa. [É preciso] Entender a necessidade do nicho, as maiores dores e suas alegrias. Assim, a gente começa um trabalho consistente", diz Joana. Refugiados climáticos: 17 milhões de pessoas na América Latina poderão ser forçadas a migrarem até 2050 Refugiada da Gâmbia no Brasil é aprovada em 13 universidades no exterior

No Dia internacional do Voluntário, empreendedora social fala sobre transição de carreira e dá dicas sobre trabalho social No Dia internacional do Voluntário, empreendedora social fala sobre transição de carreira e dá dicas sobre trabalho social Analisado por Blog em dezembro 05, 2021 Classificação: 5

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