À obstinação de Belle e Sarda, obrigada!


O livro da Belle - Histórias de mulheres Reprodução “Executivas, mães, esposas, donas de casa, magras, corpo sarado! E sempre cansadas. As mulheres modernas estão sem limites, ainda que nem todas possam ser tomadas como excessivas”, escreveu Belle no esboço do que seria um livro sobre o universo feminino, no qual mergulhou ao longo de toda carreira como psicanalista. Qualquer identificação, é puro encontro com a verdade. E sobre a dificuldade quase universal de conseguir sentir prazer em estar só? Belle nos lembra, citando a jornalista Christiane Collange – uma grande estudiosa da sociedade francesa, a quem passei a acompanhar, agora - que isso só é possível pra quem desenvolveu seus gostos pessoais. Pensa aí, quanto tempo - que deveriam se dedicados a isso - perdemos? Perdemos tentando nos enquadrar, suprir, saciar, sentir leveza na balança. Na balança da legitimidade dos nossos desejos, na balança da farmácia, mesmo. Foram décadas dedicadas ao estudo dos transtornos alimentares. Período em que constatou os efeitos extremos de uma “exigência despropositada da magreza” que vive em boa parte de nós e é capaz de nos desumanizar. Constatação que ela divide a partir de uma experiência pessoal. Quando diagnosticada com câncer, perdeu muito peso durante o tratamento e, quando abordada por conhecidos, ouviu mais de uma vez: “ah, o bom é que emagrece”: Belle morreu em 2019, depois de uma segunda batalha contra esse câncer. Mas deixou uma coleção de escritos íntimos e reflexivos, acadêmicos e introdutórios, ficcionais e provocadores. Conteúdo precioso que, hoje, se através de um homem que a amou e viveu esse luto a reverenciando, a compartilhando com um mundo carente de obstinações revolucionárias como a de Belle. Um mulher persistente no interesse pelas outras, pela complexidade do mundo feminino, onde administrar a liberdade ainda é um desafio porque a culpa nos abraça, onde ainda é muito difícil aprender a, simplesmente, receber sem dar, e ainda legitimar nossas angústias. “Publicar esse livro é uma realização. Eu passei por várias momentos, pensando se deveria ou não publicar, mas com o tempo fui me convencendo de que ela queria publicar. Foi bom fazer, a gente teve uma vida muito boa. O livro, meio que eterniza isso, deixa isso pra sempre, deixa a palavra dela pra sempre”, disse Carlos Alberto Sardenberg, o nosso colega Sarda, que acaba de publicar “O livro da Belle, Histórias de mulheres”, de Cybelle Weinberg Sardenberg. Leiam! Agora só consigo chamá-la de Belle. Essa mulher que eu queria ter conhecido, mas com quem pude reaprender que ficar parada não resolve conflito, e que a vocação é um chamado que merece ser correspondido. Assim como Belle, eu adoro passar as tardes lendo, ouvindo música entre uma taça e outra de vinho, e estarei mais atenta em viver esses momentos porque... “Se calhar, a felicidade é só isto”.

À obstinação de Belle e Sarda, obrigada! À obstinação de Belle e Sarda, obrigada! Analisado por Blog em dezembro 04, 2021 Classificação: 5

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